Gostei muito de Budapeste, mesmo. A viagem foi marcada um bocado out of the blue e confesso que não tinha grandes expectativas, mas comprei um guia e fiz muita pesquisa na net para me preparar e saber onde ir. Ainda assim, a cidade surpreendeu-me pela positiva, meio decadente mas majestosa e muito rica em história. Os húngaros não são o povo mais caloroso do mundo, mas, aqui e ali, já encontramos serviços prestáveis e totalmente virados para agradar o turista. Apesar de já fazer parte da UE, a Hungria ainda não aderiu à moeda europeia, mas em alguns locais aceitam tanto forins húngaros como euros, e o nível de vida ainda é relativamente barato (aproveitar enquanto dura!). Além disso, quase todos os locais turísticos têm desconto para quem apresente cartão de estudante. Aproveitando o facto de querer escrever sobre a viagem, decidi deixar aqui um pequeno guia para quem possa estar interessado em visitar a capital húngara, contado na primeira pessoa.
ARREDORES DO PARLAMENTO (PESTE)
O primeiro percurso que fizemos foi dos arredores do Parlamento Húngaro. Estava em obras porque, segundo eles, as eleições parlamentares acontecem em 2014. No entanto, uma amiga húngara disse-me que, regra geral, o Parlamento e arredores estão sempre em obras e que há vários anos que não se consegue tirar uma foto do edifício sem gruas à volta. Mas é obrigatório visitar o edifício por dentro, é mesmo muito bonito. Os bilhetes podem ser comprados no próprio dia (correndo o risco de poder não haver vaga para as visitas guiadas em inglês - que vale a pena fazer) ou pela internet e a visita só pode mesmo ser feita com guia (o que é óptimo).
De seguida, a Basílica de Santo Estevão. Fica a apenas 10 ou 15 minutos a pé desde o Parlamento. É um dos edifícios mais altos de Budapeste e a maior igreja da Hungria. Podemos subir à cúpula (usando o elevador ou subindo uns 364 degraus - nós fomos de elevador, claro) para termos uma vista panorâmica da cidade. Por acaso não chegámos a reparar nisto, mas, de acordo com os guias, na capela atrás do santuário, conserva-se uma relíquia importante: a múmia do rei Estêvão I, primeiro regente da Hungria e fundador da igreja húngara.
À tarde, aproveitámos para visitar a House of Terror (Rua Andrássy nº60, seguir na linha de metro até Vorosmarty utca), antiga sede da polícia Nazi, durante a ocupação alemã, e da AVO, a polícia secreta comunista que ocupou o edifício de 1945 a 1956. Nesse edifício, pessoas que não agradavam a ambos os regimes foram enclausuradas, torturadas e assassinadas, daí que se tenha transformado num museu que mostra os horrores do regime nazi e soviético. É um museu muito rico em material audiovisual e peças recuperadas da altura (fatos, livros, óculos, cartas, armas, mobiliário, etc) e podemos ainda visitar, na cave, as celas e as máquinas de tortura utilizadas. A única falha que encontrei foi o facto de muitas coisas só estarem legendadas em húngaro, limitando muito a nossa leitura das histórias.
Como anoitece às 16h30, depois da visita ao museu, a melhor opção foi mesmo seguir na linha de metro até Oktogon e ficar na
Praça Jokai para tomar um copo numa simpática esplanada com aquecedores. Bebemos uma cerveja e comemos umas bruschettas no
Café Vian antes de ir jantar. Nessa mesma praça, podem optar por jantar no
Menza, um restaurante simpático e com boa comida. Convém ir cedo porque, segundo nos pareceu, é bastante popular. Depois do jantar, um pouco mais distante dali, uma boa opção para tomar um copo e ouvir música é o
Szimpla Kert (vão porque é mesmo muito giro!). Para quem ainda quer aproveitar mais a noite, sugeriram-nos uma discoteca chamada
Hello Baby, na Rua Andrássy
(o edifício é bem bonito por fora, pelo menos), mas onde não fomos, porque as estas longas caminhadas diárias a pé acabam com qualquer um.
SZÉCHENYI e ÓPERA NACIONAL (PESTE)
No segundo dia, a manhã foi passada nos Banhos Széchenyi que, de acordo com a maioria, são os melhores banhos termais de Budapeste. Para chegar lá, é seguir na linha de metro 1 (a mais antiga da Europa Ocidental, by the way) até ao final. À volta, temos um enorme jardim, uma espécie de Feira Popular e um Jardim Zoológico.
Os banhos são realmente extraordinários. O palácio é enorme e todas as salas têm banheiras de água a diferentes temperaturas e com diferentes propriedades
(algumas cheiram a enxofre, mas sabe lindamente). No exterior, piscinas enormes de água a 38 graus fazem-nos mergulhar imediatamente para escapar aos 10 graus cá fora. O clima de relaxamento é tal que os reformados passam aí a manhã a jogar xadrez dentro da piscina
(sim, a piscina tem mesas de xadrez lá dentro). Também podemos procurar serviços de massagem, alguns mais baratos que outros.
Depois dos banhos, regressámos a Oktogon, onde almoçamos no Oktogon Bizstro, um restaurante com um buffet a um preço muito muito simpático (cerca de 4 euros) e com uma grande variedade de pratos. Foi, aliás, o sítio onde comemos mais vezes. No entanto, para quem tiver tempo, valerá a pena visitar a Praça dos Heróis ou o Castelo Vajdahunyad ainda nos arredores de Széchenyi.
À noite, arranjámo-nos para ir à
Ópera, novamente na Rua Andrássy
(é a rua principal de Budapeste). Tínhamos comprado o bilhete no dia anterior, quando voltávamos da House of Terror e ficou-nos por 5 euros. Há espectáculos quase todos os dias e vale mais a pena comprar o bilhete para o espectáculo do que comprar uma visita guiada do edifício (é mais caro). A ópera - The Rape of Lucrecia - era em inglês, mas rapidamente percebi que, quando as pessoas estão a cantar ópera, pouco interessa a língua em que o fazem, porque se percebe muito pouco. Mais vale ficarmos atentos aos actores em palco
(e lermos a história algures antes de ir). No final do espectáculo, jantámos num restaurante chamado
Cantine, bem pequenino mas com um serviço simpático.
BAIRRO DO CASTELO E BUDA NORTE
No terceiro dia (ou melhor, quarto, porque no primeiro dia não fizemos nada senão descansar) pareceu-nos bem atravessarmos a Ponte das Correntes a pé até Buda e visitarmos o Bairro do Castelo. A subida pode ser feita pelo funicular, que se encontra logo à saída da ponte (mas é caro e pode ter filas enormes) ou a pé, que foi o que fizemos e aproveitámos a subida para tirar boas fotos da paisagem. No Palácio Real funciona a Galeria Nacional Húngara, que não visitámos porque o tempo não era muito (já disse que às 16h30 já é noite?) e pode assistir-se, em certas alturas do dia, ao render da guarda, além de beber o típico vinho quente com especiarias.
No Bairro do Castelo, visitámos a Igreja de Matias, usada durante muitos anos para a coroação dos reis húngaros, que é belíssima por fora e por dentro. O Bastião dos Pescadores, por trás da igreja, também merece uma visita, pela vista panorâmica que oferece do Danúbio e de Peste. No topo do Bastião, existe um pequeno wine bar com esplanada panorâmica (mas que não é propriamente barato). Neste dia, para aproveitarmos cada minuto, acabámos por fazer sandes em casa e levar para o almoço, por isso não sei sugerir espaços onde almoçar no bairro.
Durante a tarde, apanhámos o tram 19 (perto do funicular, novamente) até ao
Hotel Géllert, onde existem os
Banhos Géllert (que não visitámos, mas que, segundo dizem, também são bons, apesar de mais caros). Ao lado do hotel, podemos visitar a
Igreja da Gruta, uma capela escavada dentro da colina, originalmente usada pelo santo húngaro Istvan, mais tarde alargada pelos monges paulinos e oficialmente inaugurada em 1926. Durante a ocupação soviética, o líder da ordem Ferenc Vezer foi condenado à morte e os monges foram expulsos ou presos e a capela esteve encerrada durante quase 40 anos. Desde que foi reaberta que continua a funcionar como local de culto para os cristãos e devotos da Nossa Senhora. A entrada nesta igreja é muito barata e tem direito a guia áudio, por isso vale a pena.
Depois da visita, é atravessar a
Ponte da Liberdade para o outro lado novamente e visitar a
Váci utca, a rua com mais comércio de Budapeste
(encontramos muitas lojas de souvenirs, muitos restaurantes turísticos e as lojas mais conhecidas como Zara, H&M and so on). Normalmente, na saída da ponte, há um mercado tradicional que vale a pena visitar, mas fecha cedo e acabámos por perder a oportunidade.
Nessa noite jantámos naquele que considerei o meu restaurante preferido de toda a visita, o
Zéller Bistro. Quando chegámos, o restaurante estava cheio e não tínhamos mesa, mas o staff prontificou-se a tentar arranjar-nos lugares, desde que esperássemos um bocadinho. As
reviews que lemos no Trip Advisor eram bastante boas, por isso esperámos - serviram-nos bebidas e deram-nos petiscos durante esse tempo - e valeu a pena. A comida era caseira e muito boa
(comi um delicioso risotto de beringela), o atendimento foi sempre simpático e o mais giro de tudo foi que as toalhas de mesa eram na verdade folhas brancas para desenharmos
(o copo com lápis de cor estava em cima da mesa). Recomendo este restaurante a todos os que visitarem Budapeste.
BAIRRO JUDAICO (PESTE)
No último dia, tínhamos somente a manhã para aproveitar antes de seguirmos para o aeroporto, por isso fomos até ao Bairro Judaico para visitar a Grande Sinagoga e o seu Museu Judaico (na Dohány utca). Comprem o bilhete com a visita guiada em inglês para conhecerem toda a história deste imponente edifício. À entrada, os homens recebem o tradicional kippah para colocarem na cabeça enquanto estiverem dentro da sinagoga, em sinal de respeito. Bem diferente das sinagogas ortodoxas, esta é enorme e tem uma miscelânea de estilos arquitectónicos e decorativos, porque, segundo o guia, o objectivo seria que todas as pessoas de qualquer religião se sentissem bem neste espaço de culto (de facto, pelo que fui ouvindo e lendo, senti que existe um grande sentimento de tolerância religiosa na Hungria, é algo que faz parte da sua história, excepto quando estiveram dominados por outros povos). Durante as visitas, homens e mulheres entram pela mesma porta e circulam dentro do mesmo espaço; mas durante as cerimónias é diferente: homens em baixo e mulheres nos camarotes. Facto curioso é que esta sinagoga chegou a ser utilizada pela polícia nazi como posto de telecomunicações, porque eles sabiam que as tropas dos Aliados nunca iriam bombardear directamente o bairro judaico.
Saindo da sinagoga, atravessamos um corredor que nos leva até ao Museu Judaico e ao Memorial das vítimas do Holocausto. Pelo caminho, passamos por um jardim cheio de lápides. No final de 1944, os nazis enclausuraram os judeus neste ghetto até meados de Janeiro de 1945 e vários foram exterminados. No final da guerra foram abertas, neste local, valas comuns para enterrar uma grande quantidade de judeus mortos. Algumas lápides pertencem a pessoas que foram identificadas, outras têm apenas os nomes de judeus que nunca mais foram encontrados. O Regime Soviético nunca patrocinou a reconstrução da Sinagoga, que ficou bastante destruída no final da guerra e só em 1990 é que o governo húngaro, juntamente com alguns patrocinadores, financiaram a sua recuperação e a construção do memorial.
E chegou ao fim. Penso que só nos ficou a faltar a
Ilha Margarida, no meio do Danúbio, que é um local de lazer para os habitantes de Budapeste. Se pensam ir à Hungria nos próximos tempos, usem este mini-guia para se inspirarem. Quatro dias serão suficientes para visitar a cidade; se tiverem mais dias de férias, aproveitem para visitar Praga, por exemplo (a
N. fez isso).