domingo, 17 de outubro de 2010

Skinhead Attitude


Este foi o primeiro título da lista de documentários do DocLisboa 2010 que me chamou a atenção. O objectivo do autor, o suíço Daniel Schweizer, foi documentar as origens e a evolução do movimento Skinhead. E desengane-se quem pensa que skinhead é sinónimo de nazi e neo-nazi. O movimento emergiu na Europa dos anos 60, tratando-se apenas de jovens que, por irreverência, andavam de cabeças rapadas ou com uns penteados estilo punk, mas que se uniam somente pela paixão que sentiam pela música reggae e ska, independentemente de raças, cores e credos. Com o tempo, os ideais e as mensagens contidas nas músicas começaram a ser conspurcados por ideologias políticas, o sentimento de tolerância e união esbateu-se e foi aí que emergiu a versão militarista e de extrema-direita dos skinheads, os neo-nazis, que nada têm a ver com a ideologia inicial do movimento (anti-racista e, claro, com bastantes influências jamaicanas).

Construído em torno da skinhead francesa de 22 anos, Karole, o documentário inclui entrevistas, gravadas na Europa e nos EUA, com várias pessoas importantes na cena skinhead, especialmente músicos de punk rock, ska e oi! como Laurel Aitken, Bad Manners, Roddy Moreno, Jimmy Pursey, Stage Bottles, Los Fastidios, entre outros. Actualmente, as várias vertentes do movimento skin (anti-racistas, racistas, políticas, não-políticas) confrontam-se e nos EUA chegaram a morrer dois skins anti-racistas, traídos e assassinados por skins neo-nazis. São ainda exploradas as ligações com organizações terroristas de extrema-direita como o Combat 18, uma espécie de exército neo-nazi. O que me chocou mais foi ver famílias norte-americanas - claro que viviam no Texas - a proferirem barbaridades racistas e xenófobas, a desejarem a morte de todos aqueles que odiavam e, pior de tudo, com crianças pequenas ao lado que muito provavelmente serão educadas naqueles moldes. O movimento neo-nazi (os skinheads tradicionais recusam-se a tratá-los por skins, apelidando-os de boneheads) parece estar cada vez mais organizado, com armas, com reuniões secretas, com cada vez mais violência e intolerância a serem implantadas naquelas cabecinhas.

O fio condutor de todas as entrevistas está um pouco confuso e por vezes perdemo-nos no raciocínio, mas acho que se conseguiu um documentário interessante, reunindo vários e importantes pontos de vista. Além da lição de História, dá-nos uma ideia geral - e talvez um pouco assustadora - do rumo que esta nossa Europa poderá estar a tomar. Podem ver aqui, mas sem legendas portuguesas.

4 comentários:

Rafeiro Perfumado disse...

É um fenómeno que com o agravar da crise social só pode ganhar simpatizantes, pois as pessoas querem encontrar bodes expiatórios. Acho que poucos se lembram que foi assim que o nazismo emergiu como partido do poder.

Mafalda Ruas disse...

É fantástico como é fácil deturpar uma boa expressão pessoal.

Babe, adoro a forma como descreves coisas :)

Mafalda Ruas disse...

É fantástico como é fácil deturpar uma boa expressão pessoal.

Babe, adoro a forma como descreves coisas :)

Cat disse...

Já há uns tempos tinha lido que nos anos 60, os primeiros grupos skin eram compostos também por jovens negros vindos das colónias britânicas, e tudo cresceu em torno das ideias de fraternidade e igualdade, do rock e do reggae.
E sim, entre todas essas facções, a guerra está instalada...