sexta-feira, 5 de novembro de 2010

blinded by nostalgia.


A mudança assusta-me. É verdade. Sou muito apegada às coisas, às rotinas, às pessoas, aos sentimentos. Não tenho diários como a J., mas desde pequena que guardo merdinhas só porque me lembram momento "x", pessoa "y", conversa "z", sentimento "h" (tive aulas de estatística há pouco tempo, perdoem-me). Tenho caixas com estojos da primária, um bilhete de cinema do dia em que fiz 16 anos (entre outros vários bilhetes de cinema com datas especiais), tenho declarações de amor, fotos de amigos, guardanapos rabiscados, bilhetes de avião, não apaguei os recadinhos deixados nos cadernos do liceu e até guardo alguns históricos de conversas, entre muitas outras coisas. Até hoje, não sei lidar com mudanças, mesmo aquelas mais naturais da vida. Tenho sempre necessidade de manter uma ligação com o que já passou. Com cada pedacinho guardado, fica guardada uma emoção. É uma espécie de Síndrome de Peter Pan, digamos. Talvez mais complicado que isso, mas também não sei explicar (e este texto está a sair-me o mais confuso possível, eu sei). Se calhar é porque sou do instável signo Gémeos. Ou se calhar ainda não aprendi a lidar com esta volatilidade intrínseca. Anyway... Com o tempo aprendi a apostar na mudança, a experimentá-la, a entender que é natural e que até traz muito de bom, mas ainda assim não deixo de sentir como se tivesse saltado num abismo. E muitas vezes, depois do salto (sim, é assim que eu imagino a minha vida, um conjunto de saltos em queda livre em que tudo parece passar depressa demais), o estômago contorce-se: "Parem tudo, quero voltar atrás, quero voltar a viver aquilo, quero voltar a sentir-me daquela maneira, não quero que nada disto desapareça! Para onde vão estas pessoas? E estas músicas? E estas palavras? E estas recordações? E agora, o que é que eu faço?" Mas depois desaparece, o ritmo cardíaco abranda e tudo fica normal, em sossego: "Já passou, está tudo bem, estás bem encaminhada, estás feliz". De vez em quando, cada vez mais de vez em quando, volto a sentir o tal aperto no coração. Mas já sou crescidinha, vai acabar por passar. Assim espero.

(Nota: Todo este texto pode ter sido influenciado por uma grave crise de TPM ou pelo facto de hoje ter ido ao ginásio às 7h da manhã.)

13 comentários:

Analog Girl disse...

Acho que isso não passa babe, eu vou nos 28 e continuo a reagir assim também...

Cate disse...

Já sabia que me ias responder isso. Somos tão parecidas que era impossível não sermos praticamente irmãs, meu bem :)

Juni disse...

Acho que as recordações se devem guardar sim. Mas que não vale a pena voltarmos a elas. É essencialmente por isso que eu escrevo; para que fique tudo arrumadinho, para que não volte a querer viver nada daquilo mas outras coisas tão boas, no futuro, que até podem assemelhar-se mas sem se repetirem.
Que não te dêem muitos apertos, há toda uma nova vida que podes construir A PARTIR dessas recordações e por causa delas. Mas sem as desejares.
Porque viver o que vivemos já não nos servirá. O caminho é para o futuro.
"Já passou, está tudo bem, estás bem encaminhada, estás feliz" - isso sim. Acredita nisso. Mesmo nas crises de TPM, mesmo nas manhãs de ginásio ou nas tardes aborrecidas.
Um beijinho,
J.

Marta disse...

Eu, apesar de estar sempre a querer saltar e a mudar de cidade, de pessoas, de experiências, sou muito assim. Sou apegada a memórias, a recordações, a momentos. Também já guardei muita coisa, mas são emoções que estão guardadas dentro de mim. Às vezes acordam e eu tenho de lhes explicar que mais não são que recordações, que foi bom, mas agora já não faz tanto sentido e que tenho de viver com os momentos do momento, com as construções do meu novo dia-a-dia. Que também me vai encher de emoções para mais tarde eu lhes explicar que foi bom, mas também há que dar o passo em frente.
Beijinho!

Cat disse...

Cate, passa sempre, e quase sempre a mudança é para melhor (mesmo que o salto no abismo seja assustador)
:) **

N disse...

Eu também sou por guardar tudo, às vezes coisas que não fazem sentido. Tenho bilhetes de escola, postais aos milhões, declarações de amor e de amizade, rolhas de garrafas de vinho, peças de roupa pra lá de velhas e demodé, bilhetes, fotografias, mensagens no telemóvel e e-mails devidamente arrumadinhos. Porque às vezes gosto de voltar lá ao sítio, à pessoa, ao momento que já foi por um bocadinho. E não necessariamente quando "preciso". Às vezes é só porque passo por determinada caixa e vou ver o que guarda ela em vez da minha cabeça. Mas as recordações (e as saudades) valem(-me) o que valem. O caminho é em frente, seja o salto para onde for.
Beijo beijo

Rafeiro Perfumado disse...

A mudança é necessária, caso contrário neste momento estarias a colocar esses teus pensamentos numa qualquer caverna, com o recurso a uma mistura de terra com excremento de mamute...

Cate disse...

Ahah, Rafeiro, claro! ;)

Ana disse...

Eu também tenho mil milhões de coisas guardadas! Tenho imensas caixas de recuerdos, IMENSAS!! Há certas coisas que de facto nos fazem ficar um bocadinho presas e com medo de alguma mudança mais "agressiva". Mas acho que o melhor é deixar andar... há coisas que têm mesmo que ser feitas, por isso mesmo que se pense um bocado "será que fiz bem? será que não fiz? já não quero mais!", acaba por passar e fazer parte da nossa rotina.

Mary disse...

Eu guardo tudo, tudo, tudo. <bilhetes de cinema, talões de restaurante, todos os papelinhos com algum tipo de coisa escrita, revistas e panfletos. não sou muito organizada mas normalmente quando remexo nas coisas sei a que momento se referem. Até porque não sou uma pessoa de fotos e é uma maneira de recordar alguns momentos. E recordar é bom, especialmente os momentos em que fomos muito felizes.

Catarina Trindade disse...

Cate não te quero desapontar mas eu, com os meus 38 anos (meu Deus JÁÁÁÁÁÁ)posso garantir-te que, pelo menos, a mim não me passou!!!!

O meu pai ainda diz, com alguma frequencia, "Oh Caty tu não cresces mesmo!!!!!"

Por isso olha...aproveita a vida da maneira que for e que te der mais prazer!!!
Bjs

Lazy Cat disse...

Também tenho muita coisa que guardo. Mas cada vez vou deitando coisas fora. Porque sempre fui (e sou) muito apegada ao passado. Mas tenho noção que tenho de deixar o passado para trás e seguir em frente. E para cortar essas amarras, não há nada como deitar fora todos esses pedaços que guardo em caixotes. Assim como assim, se estão sempre nos caixotes, nunca olho para eles. Escusam de estar a ocupar espaço.

Ou então é porque de há uns tempos para cá não tenho muito que queira guardar. Só quero é que o tempo passe e me permita chegar a algum sítio melhor.

INA disse...

Quanto às recordações, podia ter sido eu a escrever o texto (se escrevesse bem). E não sou gémeos, por isso deve ter outra explicação...
Quanto às mudanças é o facto de as encararmos que nos torna mais fortes, mais maduras e mais experientes.
;)