«A ideia de que não podemos decidir quem fica ou não nas nossas vidas é forte. É contra tudo o que queremos, chama-nos de impotentes, delimita o espaço em que aquela criança birrenta que viceja dentro de nós pode actuar. É um alerta: o outro tem o direito de ir (e nunca mais vir) só porque assim deseja, porque descurtiu-nos, achou que o fizemos foi de mais ou de menos, cansou, partiu para outra, seguiu sua vida decidido a não mais nos amar. Também reflecte o contrário, que o outro pode continuar a ser motivo de nosso afecto, mas não de convivência. Que o outro faz-nos mal, não nos respeita, não merece a nossa companhia e, mesmo assim… Sim, continuamos a gostar dele. Contra o bom senso, contra o que é direito, contra a opinião dos nossos outros amigos ou amados que, recorrentemente, alerta-nos para o mal que aquele afecto nos traz.
No fim, há o verbo “aprender”, diferente de “sentir”, “perceber”, “admitir”. “Aprender” é um termo mais severo. Recorda ordem de pai, conselho de mãe, comando de preceptora alemã. “Aprender” é pôr cá para dentro algo alheio a nossa natureza. Como animais de circo temos que aprender coisas que não faríamos em ambiente selvagem. Somos elefantes que precisam dançar valsa para não levar chicotadas e ganhar alimentos. Somos leões que dão a pata. O problema, senhor domador, cuidado connosco, nunca se esqueça, continuamos leões.»
(Edson Athayde, na Sábado)
4 comentários:
muito bom...
Devo preocupar-me?
(e já agora, eu não te enviei o cabeçalho com lehor qualidade? Já substituíste?)
pus, mas ficou assim!
E é, de facto, assim. Forte e fora do nosso alcance.
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