É estranho saber que já não vou encontrá-la em casa, no sofá, a ler ou a comentar as novelas ou os concursos da televisão. E que já não vai haver bolo de iogurte ou arroz doce para sobremesa, nem os habituais almoços de sexta-feira. Estranho pensar que em um mês tanta coisa mudou, que perdeu muita mobilidade, que se vai esquecendo cada vez mais das coisas, que baralha os dias, as tardes e as noites, que fica cansada de falar (ela, que sempre falou pelos cotovelos) e adormece a meio das conversas. E, sobretudo, que às vezes pode estar triste e eu nem lhe posso telefonar. Às vezes martirizo-me a pensar que podia ter visitado e telefonado mais vezes, que se calhar não fui a neta perfeita. Mas depois penso que eu e a minha avó somos grandes amigas desde sempre e que ela me desculpa se alguma vez lhe falhei, como eu também sempre lhe perdoei as coisas menos boas (que toda a gente tem, até os avós). Agora só quero passar algumas horas com ela, mesmo que seja só para estarmos de mão dada, aproveitar o tempo que nos resta (que nem sei dizer se é muito ou pouco) e vê-la feliz por me ver. Mesmo que passado umas horas ela possa nem se lembrar que lá estive.
É a única avó que me resta, a que passou mais anos comigo, a que contribuiu para muito do que sou. Não a pude ver hoje, mas amanhã vou visitá-la e dar-lhe muitos beijinhos.
Os imprevistos são certezas. Aproveitem as vossas pessoas enquanto podem.
É a única avó que me resta, a que passou mais anos comigo, a que contribuiu para muito do que sou. Não a pude ver hoje, mas amanhã vou visitá-la e dar-lhe muitos beijinhos.
Os imprevistos são certezas. Aproveitem as vossas pessoas enquanto podem.
2 comentários:
Um texto muito lindo e sentido...
A minha madrinha morreu no ano passado, e ainda hoje me martirizo por pensar que se calhar não aproveitei bem o tempo, que podia ter ajudado mais...
As últimas visitas eram todas à pressa, o stress diário, a pressa de apanhar os transportes, ter de ir par o trabalho, já só ia a Lisboa uma/duas vezes por ano...
Ainda evito assumir a realidade...
Fico tão sentida por ler estas palavras. A tua avó sempre fez parte da minha infância e da minha vida também. É estranho pensar nela com todas essas fragilidades, ela que sempre foi tão forte. Dá-lhe todos os sorrisos que conseguires.
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