segunda-feira, 26 de agosto de 2013

em casa da avó.

Deixamos bocados da nossa vida em gavetas. Pedaços dos nossos dias mais normais, que fomos guardando em camadas, dentro de caixas, por baixo de panos, atrás de peças mais quotidianas, esquecidos durante anos e deixados para trás quando partimos. Foram a vida que acontecia. São pequenas notas que escrevemos, cartas de quem mais nos amou, convites para os casamentos de quem nos era mais querido, números de telefone e moradas de quem nos era importante, entre tantos outros cartões e papéis amarrotados que, por instantes, tiveram significado e nos fizeram sorrir. Ficam para quem cá ficou, mas sem alguém que os possa realmente explicar. Quem fica, fica-se pelas suposições, porque agora já é tarde. 

Quando for velhinha, espero que os meus filhos ou netos guardem alguns dos pedaços de vida que eventualmente deixarei espalhados pela minha casa. Como eu vou fazer com coisas que encontrei da minha avó e do meu avô. Provas de que fomos vivos, de que amámos e fomos amados. Não deve haver maior tesouro que esse.

2 comentários:

Analog Girl disse...

Acho que esses pedaços da rotina são as coisas que mais nos tocam. Um vestido de noiva só foi usado 1 vez, ao passo que uma agenda cheia de papéis rabiscados pode ser o maior tesouro. Adoro guardar estes pequenos nadas que são tudo.

Unknown disse...

Arrepiei-me ao ler o teu texto, em especial a tua nota de rodapé. Sinto sempre o mesmo, que importa o que deixámos para os que mais amamos, o pedaço da nossa história. Lindo Cat