sexta-feira, 30 de agosto de 2013

o piropo.

Isa Almeida e Adriana Lopera, duas militantes do Bloco de Esquerda, querem que o piropo seja controlado. É isso mesmo! Estas duas mulheres corajosas levantam-se contra os elogios badalhocos que o género feminino é obrigado a ouvir praticamente todos os dias pelas ruas deste país. Contra o "oh flôr, dá para pôr?", marchar marchar!

Para Adriana e Elsa, "o homem é ensinado desde pequeno a ser sujeito sexual, a ter desejo, prazer, orgasmo e a falar disto abertamente fazendo alegoria dos seus dotes de engate e não só" e "pelo contrário à mulher é reservada apenas a possibilidade de ser objecto sexual". As duas militantes vão mais longe e classificam aquelas típicas frases do homem das obras - "oh estrela, queres cometa?" - como "assédio sexual" e enquadram-nas na prateleira da "violência de género".

Eu concordo que é uma verdadeira seca ter que ouvir os comentários dos rebarbados e machistas que circulam nas ruas deste país. Uma mulher não pode usar um vestido ou uns calções e ir passear para a Baixa plenamente descansada. Pensando bem, não pode usar nada, que, para alguns, basta ver passar uma mulher para desatarem a dizer alarvidades. E eu assumo que há poucas coisas que me deixem tão enojada como um homem com três dentes na boca a dizer-me que a minha mãe só pode ser uma ostra ("para cuspir uma pérola como tu"), mas uma mudança só poderá passar pela educação das pessoas. Classificar o piropo como "assédio sexual" ou "violência contra a mulher", dizer que o piropo não é tão inofensivo como se pensa, só isso, por si, não é nada, não muda nada. Ensinar os meninos a respeitar as meninas, é o primeiro passo (senão o único) para não termos as ruas cheias de trogloditas.

Mas em que é que isto contribuiu para sairmos da crise? Pois, parece-me que nada. Será que este assunto é assim tão relevante nesta altura? Hmmmm... Não. A única coisa a que tudo isto apela é mesmo a reflectirmos sobre o piropo (é um elogio? faz parte da cultura portuguesa? é ofensivo? é assédio? quais os limites?) e sobre a sociedade machista em que ainda vivemos.

Até acredito que se cobrássemos um imposto por cada piropo ordinário que se ouve nas ruas, a dívida portuguesa estaria rapidamente saldada. Mas a verdade é que qualquer tentativa de controlar o piropo jamais conseguiria passar para um formato legislável. E implementar regras que não podem ser fiscalizadas, poderá somente ridicularizar quem impõe essas mesmas regras. Metam lá mais tabaco nisso.

2 comentários:

Mary disse...

Isso faz-me lembrar uma proposta feita aqui há tempos no país de nuestros hermanos que basicamente visava criminalizar qualquer tipo de discriminação, indo ao cúmulo de proibir que se contassem piadas sobre gordos, loiras, etc etc... Basicamente deixava de se poder contar piadas, porque geralmente o objectivo da piada é precisamente gozar com determinado estereótipo. Neste caso particular, concordo que os piropos são nojentos e que acho igualmente nojento vestir uma saia e sentir-me mal quando vou na rua porque me estão a comer com os olhos. Acredito que muito disto seria evitado, tal como dizes, dando educação aos nossos meninos para que não se tornem energúmenos e sim homens que respeitam as mulheres. Mas primeiro ainda muito teremos que mudar as nossas próprias mentalidades, enquanto mulheres, pois quantas vezes não caímos no pensamento machista: olha-me aquela badalhoca com tudo de fora, ou aquela tipa é uma porca porque anda com todos, enquanto os homens são garanhões.

Analog Girl disse...

Pois, estava a pensar no mesmo, como se pode fiscalizar uma coisa destas? E realmente é ridículo tentar fazê-lo. Mas realmente uma mulher não pode usar nada mais provocante porque "está mesmo a pedi-las". E hoje que anda a circular uma notícia de um "senhor" que foi absolvido do crime de violação porque não foi muito violento... Está algo de profundamente errado nas mentalidades deste país...