... tudo está a tomar proporções exageradas.
Primeiro foi a publicidade do Pingo Doce. Sim, é ridícula e poucas são as pessoas que gostam de ouvir aquilo continuamente a passar na rádio ou na televisão. Sim, alguém fundou um grupo no Facebook, mas foi claramente uma brincadeira entre as muitas que se passam nesta rede social. Do nada, o tema é notícia nos telejornais, já se fala em boicote à marca, etc e tal. Primeiro exagero.
Segundo exagero. A Maitê Proença faz comentários (muito pouco) humorísticos sobre Portugal e a sua cultura. De repente, desata tudo a chamar nomes à mulher, a falar em violência contra ela, a falar mal dos brasileiros que, como todos os povos têm defeitos (e nós temos mais é que admitir os nossos), mas que não têm culpa pelo que diz a Maitê Proença. Senhores, para quê dar tanta importância a uma actrizeca vinda do nada que diz umas quantas baboseiras para um programa que nem deve ter assim tanta audiência ou boa reputação? Juro que ficava muito mais chateada se um brasileiro (ou chinês, ou italiano, ou grego) realmente inteligente e prestigiado viesse dizer baboseiras sobre o meu país. Agora... a Maitê Proença? É simplesmente uma senhora que achou que um vídeo caseiro era uma coisa gira para se passar num programa de televisão. Não teve dois dedos de testa para perceber que cuspir numa fonte do Mosteiro dos Jerónimos e passá-la na televisão poderia não ter assim tanta graça. Só isso. E podemos não gostar e sentirmo-nos meio injustiçados.. Mas falar em apedrejamentos? A meu ver temos mais é que nos rir perante tamanha ignorância e fraco jeito para o humor. E não comprar os livros dela em que fala da vida miserável que teve (e, a meu ver, só compra quem não tem amor ao dinheiro). Ponto final.
Terceiro exagero. O Saramago publica um livro chamado Caim em que conta a sua própria versão da história bíblica. Na altura do lançamento do livro, faz umas declarações completamente anti-religião e assume-se como ateu. Tudo cai em cima dele. Então mas o homem não tem direito à liberdade de expressão? É a opinião dele, ninguém é obrigado a pensar da mesma forma, todos temos massa cerebral (ou pelo menos gosto de pensar que sim). E até pode ser um golpe de publicidade, mas isso é lá com ele. Quem quer comprar livro, compra... Quem não quer, não compra! Claro que a Igreja veio novamente à televisão fazer o desnecessário papel da vítima. A eles digo-lhes que fico muito mais ofendida quando vejo o Papa em África, um dos países com as maiores taxas de infecção de HIV (uma doença assim a dar para o terrível porque é... como hei de dizer... mortal) a dizer às crianças para que não usem preservativos. Como se costuma dizer, cada um sabe de si e Deus sabe de todos. Entretanto, em jeito de cereja no topo do bolo, o I lança um inquérito: "Deverá Saramago renunciar à nacionalidade portuguesa?" E eu pergunto-me se estará tudo louco. O conservadorismo hipócrita está novamente a ganhar força? Espero bem que não, senão dou o braço ao Saramago e vou com ele também para terras de nuestros hermanos.
Isto para não falar da postura - também ela exagerada - do Presidente da República, por quem hoje em dia começo a sentir uma enorme antipatia. Haja bom senso, Portugal.
4 comentários:
Estes comportamentos bélicos dos portugueses começam a preocupar-me seriamente. Sinto que pertenço a uma época em que não há causas por isso tudo se junta nestes excessos fanáticos, e as carneiradas fanáticas que se formam começam a parecer-me perigosas. Junto a isto também os excessos que vejo diariamente em blogs conhecidos, o ódio que move as pessoas.
Creio que a internet é a nova maneira da Humaninade exorcisar as más energias. Se antes eram aceitáveis as lutas corpo a corpo e a guerras, hoje em dia faz-se pressão psicológica nas massas, e os media embarcam nisso.
Não se compreende estas mobilizações absurdas, mas é claro que algo nos está a faltar. Será da crise? Estamos revoltados e não sabemos como superar esta fase?
Humanidade... (aprende a escrever)
Belíssima exposição esta que faz da mentalidade do português médio (ou mediano, para não dizer medíocre) vista à luz de acontecimentos recentes.
Ainda bem que não se insere neste grupo!
Tás inspirada...
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