quinta-feira, 30 de setembro de 2010

sstrás!

Quando temos um problema ou uma chatice qualquer, temos um problema e uma chatice que são nossos, que nos afectam e também não esperamos (embora gostássemos) que alguém os vá compreender, que alguém os vá sentir como nós. Porque não sentem, não lhes toca, é normal. E quando nos dizem "olha, há pessoas que estão bem piores, que têm fome, que têm doença x ou y, que não têm isto ou aquilo", a nossa primeira (e egoísta) reacção é pensarmos "mas o que é que uma coisa tem a ver com a outra?" ou "quero lá saber, estou a sofrer na mesma".

Hoje, ao pequeno-almoço, lamentava-me com a minha mãe dizendo que era um martírio acordar todos os dias para ir trabalhar numa coisa em que há muito deixei de acreditar ou ter prazer e ela respondeu-me que martírio era quando se tinha que levantar de manhã para ir fazer sessões de quimioterapia e não ir trabalhar. Nessa altura, bem me lembro, o que ela mais queria era ir trabalhar, falar com as colegas, sentir-se bem, sentir-se viva, ver o cabelo crescer e não ter veias queimadas e dilaceradas. Pedi-lhe que não usasse isso como termo de comparação e vim embora. Agora, poucas horas depois, chega-me a notícia de uma miúda da minha idade (daquelas pessoas que cruzaram a nossa vida e não ficaram, mas que ainda assim sabemos que são boa gente) tem cancro de mama. E foi como levar o derradeiro murro no estômago. Pelo que já vivi com a minha mãe e outras pessoas que me eram queridas, uma coisa destas é o suficiente para me fazer pôr as ideias e os sentimentos no lugar. É o meu maior medo. Mil vezes trabalhar em algo que não goste. Mil vezes trabalhar no Mc Donald's até.

Não bastou o conselho da minha mãe, por isso a vida deu-me a ver uma coisa destas. Deu-me uma estalada. Por isso, prometo que vou olhar primeiro para aquilo que me faz feliz, em vez daquilo que me faz infeliz, porque, quando comparado com notícias destas, é tão, mas tão secundário.

3 comentários:

N disse...

As dores são sempre de quem as toma, e as nossas são as piores, porque são nossas e porque as sofremos na pele. E depois muitas vezes somos infantis e drama queens porque exageramos e porque "ninguém percebe". Não estou a dizer que és tu que és - somos todos, uns mais, outros menos. Não sou por comparar problemas porque cada um tem os seus e relativizar nem sempre é fácil ou possível, mas sou por olhar sempre para o bright side. Por isso e por fazer os exames a essa brincadeira do cancro da mama e outros semelhantes. Por tudo o que disseste, espero que tenhas os teus em dia. *

Marta disse...

É mesmo isso, Quini!

Sadeek disse...

:(